segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

O TRIUNFO DA MEDIOCRIDADE



Muita tinta tem sido gasta para explicar a guinada ideológica ocorrida no país a partir das eleições. Não me parece provável que a sociedade brasileira, apesar de endemicamente conservadora, tenha se rendido ao fascismo. A minha tese é que se rendeu ao idiotismo.  O discurso vitorioso não veio da direita nem da esquerda. Veio de baixo.
A imbecilidade, que já vinha rondando a vida nacional, conseguiu apropriar-se do poder pelo voto. As redes sociais potencializaram o processo, possibilitando que idiotas (com bandos de seguidores mais idiotas ainda) externassem sua opinião em pé de igualdade com mestres em filosofia. O facebook democratizou a cultura da pior maneira: nivelando-a por baixo.
O fato de não ter emplacado seu candidato não exime a esquerda da responsabilidade pela imbecilização generalizada. Após anos de ‘Pátria Educadora’ e doutrinação, a única coisa que a ‘pedagogia dos oprimidos’ produziu foi uma multidão de analfabetos funcionais com diploma na mão que recitam a teoria da mais valia sem saber decifrar os mistérios da tabuada e do abecedário. As experiências didáticas “revolucionárias” não foram capazes de produzir novos Machados de Assis, Gilbertos Freyres e Villas Lobos e sim uma legião de Safadões e Mc Merdinhas.
Enquanto os intelectuais reverenciavam o samba em rodadas boêmias no Leblon e em Ipanema, os pancadões ganhavam os morros com sua ostentação desavergonhada.  Originária dos grotões miseráveis das periferias, a cultura popular (‘popularesca’ em termos mário-andradianos) tomou de assalto os círculos refinados difundindo o machismo, o preconceito, e a banalização do sexo.
Como os intelectuais fracassaram em levar artes e sociologia às massas, essas acabaram impingindo seu próprio padrão estético, de Pablo Vittar a Ratinho, do pastor Malafaia a Bruno & Marrone.
As elites esclarecidas renderam-se ao BBB e à dança do Créu assim como sucumbiram ao discurso simplório da liberação das armas e do complô marxista. Abriram mão de pensar a realidade e de apreciar a arte transgressora e reflexiva. Abdicaram de Caetano para cultuar Alexandre Frota. Para se contrapor a Sartre, lançaram mão do professor Enéas. Para virar a mesa do PT, toparam vender a alma ao diabo, submetendo-se ao discurso raso e às fake news.
Nem precisaria. A esquerda já vinha se esfacelando por si só. Os arautos do socialismo continuaram esperando Godot, na vã esperança de vir consumar-se o paraíso igualitário, corolário do materialismo histórico de Marx e Engels. Postularam a destituição da classe burguesa, mas quem teve a cabeça a prêmio foi a classe política. Recrutaram os estudantes a lutar pela qualidade da educação, mas os jovens foram à rua pela catraca livre. Convocaram as massas contra a prisão do Lula mas a população preferiu mobilizar-se pelo frete dos caminhoneiros.
Bolsonaro canalizou essas pautas fúteis e consagrou a boçalidade em seu ‘programa’ de governo, em sintonia com o admirável mundo novo que despontava nas ruas.
FHC, professor em Paris e Cambridge, sociólogo, encerrou um ciclo que intelectuais notáveis no poder após a redemocratização, instituindo programas como o Plano Real e a Responsabilidade Fiscal. Após sua saída, adveio o populismo, o descalabro nas contas públicas e o toma-lá-dá-cá da política. Afinal chegamos no fundo do poço: um candidato cuja plataforma consiste em armar a população, liquidar a ‘petralhada’ e proibir o kit gay.
Em função de suas limitações intelectuais, o presidente eleito terceirizou parte de seu governo, conferindo à economia (sob Paulo Guedes) e à justiça (sob Sérgio Moro) o brilho que faltava nas demais áreas. A imbecilidade encastelou-se no núcleo duro do futuro governo acolhendo os interesses retrógrados da bancada dos 3 B’s (Bala, Bíblia e Boi), sob as rédeas de Bolsonaro e seus filhos tagarelas, fãs fervorosos de Trump e Netanyahu.
Do inculto presidente americano, foi herdado o ódio irracional aos ambientalistas, esses ecochatos que ficam nos cobrando compromisso com temas irrelevantes como a sobrevivência do planeta e o futuro dos nossos filhos. Impropérios foram proferidos contra os malévolos fiscais do IBAMA e contra o aquecimento global que teima em continuar aumentando a despeito do descrédito dos obscurantistas.
Assim como Trump (só que sem as razões da potência econômica do Norte), prepara-se para uma mirabolante escalada militar, talvez para enfrentar o portentoso exército venezuelano e a infiltração de cubanos armados de perigosos estetoscópios.
A subserviência aos EUA talvez traga dividendos que nós, pobres mortais, não conseguimos vislumbrar. Ou talvez seja simplesmente mais um lance do besteirol que ascendeu ao poder para atender à massa ignara, aparvalhada com tantos anos de desgoverno e corrupção.
Uma hora terão de confrontar o mundo real. Até cair a ficha, “abaixo cientistas, artistas, jornalistas, ecologistas”. São perigosos. Fazem-nos pensar.
A burrice é redentora de todos os males.





sábado, 17 de novembro de 2018

MENOS MÉDICOS




A acalorada discussão em torno do êxodo de médicos cubanos é um exemplo infeliz de como o clima de debate ideológico que tomou conta do país contamina até programas de governo que mereciam uma análise isenta e menos apaixonada.

Antes mesmo de assumir, o presidente eleito já coloca contra a parede o Programa Mais Médicos, ao provocar a retirada de 8 mil profissionais de saúde cubanos (contingente que corresponde à quase metade das vagas), sob a alegação de que não dispõem da comprovada qualificação, de que se encontram sob “regime escravo” e de que estão a serviço de uma ditadura comunista.

O assunto divide opiniões de dois campos antagônicos. Para os militantes da esquerda tradicional, Cuba é a materialidade de uma forma icônica de governo irretocável e endeusado. Em eminentes debates sociológicos em restaurantes franceses, regados a ‘Chateau’, enaltecem a superioridade inquestionável do regime político igualitário. A falta de liberdade e a prisão de opositores naturalmente ficam de fora do cardápio. Os médicos cubanos são saudados como guardiões do éden socialista.

Para a direita, o programa, por ter sido instituído durante a gestão Dilma e por abranger profissionais originários da execrável pátria de Fidel, padece de um pecado original irreparável. Os suspeitos ‘doutores’ seriam na verdade perigosos agentes infiltrados dedicados a expandir os tentáculos do comunismo internacional.

Em meio a esse transcendente embate epistêmico-doutrinário, submeto às partes litigantes uma banal questão funcional: “O Mais Médicos está dando certo?” Não sou especialista mas pelo que tenho lido, os resultados têm sido bons. Se não por outra razão, uma oportunidade ímpar de levar profissionais da saúde a regiões carentes.

Legiões de médicos cubanos estão diligentemente cumprindo a missão de promover assistência a tais áreas, propiciando êxito ao programa. Seu objetivo não é fomentar doutrinação marxista. Essa função já é exercida nas universidades públicas cujos estudantes promovem passeatas, ocupações e colocam a ‘resistência democrática contra o fascismo’ como pauta preferencial à formação acadêmica. Os coitados cubanos emigram ao Brasil com um objetivo bem mais despretensioso (mas não menos ‘revolucionário’): prestar auxílio médico a pessoas necessitadas. Não prescrevem panfletos mas apenas receitas de medicamentos e xaropes. São módicos médicos.

Por mais que detestemos admitir, a medicina cubana é bastante avançada, e sua excelência é internacionalmente reconhecida, até pela OMS. Deveria ser um privilégio contar com pessoas com boa formação prestando auxílio suplementar a um país que conta com um médico para cada 500 habitantes.

Considere-se ainda que tais profissionais, em troca de um salário de 11 mil reais, são conduzidos aos mais longínquos rincões, os quais nossos ‘filhinhos de papai’, formados nas boas faculdades de medicina, recusam-se a atender, preferindo cuidar de madames hipocondríacas nas regiões nobres das grandes cidades.

Afirmar, como fez nosso futuro presidente, que se trata de trabalho escravo parece-me um contrassenso partindo de quem já declarou que o trabalhador brasileiro tem excesso de direitos.

Tampouco é razoável a contestação de que o governo cubano fica com 70% da verba revertida, em função da política de distribuição de renda do sistema socialista. O questionamento a esse repasse é ingerência em assuntos internos de uma nação independente com regime político distinto do nosso. Posição incoerente para quem reclamava justamente que os governos do PT pautavam ‘suas relações internacionais pela afinidade ideológica não pelos interesses do país’.

Por fim, a acusação de que os médicos não têm certificação é tolice. O edital exige a formação e o diploma do contratado. Além disso, em 6 anos de vigência do programa com milhares de profissionais atuantes, não se tem notícia de um caso notório sequer envolvendo negligência ou falta grave no atendimento. Deveríamos nos preocupar isso sim com os recorrentes casos de pessoas não habilitadas praticando cirurgias plásticas mal sucedidas em dondocas narcisistas ou com as centenas de casos de pacientes esquecidos em filas de espera de hospitais públicos, à espera de médicos displicentes que não cumprem o horário.

O programa Mais Médicos tem atendido com louvor aos propósitos dos países signatários. Serve a Cuba que tem a possibilidade de empregar profissionais formados em suas faculdades de medicina, obtendo uma remuneração adequada para os padrões daquele país. E serve ao Brasil que consegue oferecer serviços de saúde a populações abandonadas pelo poder público. Não há qualquer razão plausível para romper esse acordo, benéfico a ambas as partes.

28 milhões de brasileiros serão prejudicados pela decisão da saída dos médicos. São pessoas simples de comunidades afastadas que sentirão saudades dos cubanos.  Não sabem onde fica o Caribe e não entendem nada de política. Talvez comecem a pensar a respeito.

O nosso Trump tupiniquim parece nutrir um ódio irracional por tudo o que provenha de Cuba, a exemplo do irascível mandatário norte-americano que venera. Talvez pudesse concretizar outro devaneio do seu ídolo ianque e construir também um muro na fronteira com a Venezuela. Ou, melhor ainda, pelos 16 mil km de fronteira terrestre, impedindo assim a entrada de drogas, armas, cigarros e comunismo. Dotado de um complexo de superioridade em relação a nossos parceiros latino-americanos, e preocupado em macaquear a postura isolacionista do presidente americano (cujo interesse pelo Brasil e qualquer território abaixo do Texas, é zero), parece extasiado em cortar os laços históricos com nossos vizinhos hermanos.

Talvez fizesse melhor se, ao invés de provocar a saída de humildes profissionais que estão exercendo uma relevante função social, empenhasse-se em nos livrar dos nobres políticos e juízes cuja ausência ninguém iria notar, a não ser pela melhora na situação das contas públicas.

Somos vítimas de uma incurável epidemia de insensatez. Deve haver realmente algo muito doente nesse país miserável que assiste impotente à evasão de milhares de cérebros privilegiados em busca de melhores condições de trabalho no exterior, enquanto abre mão dos serviços de mais de 8 mil médicos.


quarta-feira, 7 de novembro de 2018

COMO PASSAR PELO FILTRO IDEOLÓGICO DO ENEM



 “Manipulação do Comportamento do Usuário pelo Controle de Dados na Internet” foi o tema espinhoso que o ENEM desencavou para redação da prova de 2018 para aterrorizar os postulantes a ingressar no ensino superior. A questão é: assuntos indigestos dessa natureza possibilitam efetivamente que os estudantes brasileiros aprendam a escrever melhor e a desenvolver suas ideias, a fim deixarem de figurar entre os piores do mundo, posição onde foram colocados justamente pelo sistema falido de ensino que o ENEM tem produzido? Matérias controversas como essa não deveriam mais apropriadamente ser pauta a ser debatida em outras esferas ao invés de tornadas temas de redação para adolescentes que mal sabem construir uma sentença com pé e cabeça até o fim?

Não é de hoje que os sádicos elaboradores dos exames do ENEM levantam temas excruciantes para torturar os jovens cuja única e modesta ambição é ter uma formação universitária decente para poder engrossar com dignidade a multidão de desempregados com diploma na mão: formação educacional de surdos (2017), violência contra a mulher (2015), trabalho infantil (2005), valorização do idoso (2009), abusos da mídia (2004), intolerância religiosa (2016), racismo (2016, 2ª prova), publicidade infantil (2014), lei seca (2013), preservação da floresta (2008), violência (2003), imigração (2012). E dá-lhe desgraça!

Certamente, os pupilos sentir-se-iam mais à vontade discorrendo sobre assuntos do seu cotidiano como games, música, filmes, esportes ou sentimentos universais como amor, amizade, medo, alegria em que talvez pudessem fazer extensas e criativas dissertações, exercer sua expressividade e, com mais propriedade, manifestar sinceramente suas opiniões ao invés de papaguear chavões.

Mas quem está interessado em sua opinião, Zé Mané? O ENEM quer apenas que o noviço recite submissamente a cartilha adotada, colocando-lhe na boca (e na ponta da caneta preta) lemas do receituário politicamente correto.

Faz parte dos objetivos dos educadores de plantão assombrar desde cedo a molecada com questões ‘adultas’, repletas de ‘responsabilidade social’ (seja lá o que eles acham que isso possa ser) e abortar impiedosamente seu despolitizado (‘alienado’) mundo de sonhos e fantasias.

Afinal, o objetivo do nosso sistema de ensino não é formar pessoas gabaritadas, realizadas, motivadas, cheias de vida, de bem com o mundo, e sim ‘guevarinhas’ raivosos, militantes engajados em promover passeatas, incitar ocupações e substituir regimes corruptos de direita por regimes corruptos de esquerda.

Resta-nos oferecer dicas aos jovens para sobreviver a isso. Para impressionar os julgadores com ‘consciência social’ do ENEM, lance mão de frases de efeito mas sem nenhum conteúdo efetivo como: “é necessário efetuar a mobilização da sociedade para pressionar as autoridades”, “é preciso assegurar os direitos constitucionais inalienáveis aos menos favorecidos”, “que seja adotada uma política de inclusão que respeite os direitos humanos de todos os cidadãos”, “é imprescindível estabelecer diálogo com os movimentos sociais representativos para aprofundar o processo de democratização”. Decore tais frases e insira-as aleatoriamente no meio do seu texto. Certamente, vai funcionar.

Caso queira se aventurar por algum acontecimento recente, jamais cite como fonte a imprensa ‘golpista’ que inclui Folha, Estadão, Globo, Veja etc. O único veículo que merece credibilidade dos examinadores é a Carta Capital.

São sempre bem vindas menções a pensadores chiques de esquerda como Sartre, Lukács ou Foucault. Não perca tempo lendo as obras dos ditos cujos pois você obviamente não vai entender nada. Basta pegar uma citação extraída de algum livro, pinçada no buscador do Google. Não se preocupe em checar a autenticidade pois os julgadores também nunca leram. Em se tratando de latino-americanos, dê preferência a Gabriel Garcia Márquez e sobretudo Eduardo Galeano (que, mesmo sendo um escritor menor, desfruta de um prestígio inigualável no meio). Não se arrisque a citar autores supostamente ‘de direita’ nem mesmo ficcionistas como Borges, Vargas Llosa ou Nelson Rodrigues.

Em hipótese alguma, deixe transparecer qualquer traço de aceitação ao sistema vigente ou perspectiva de melhores dias com o governo “fascista” eleito para não angariar antipatia dos professores, cuja formação foi herdada da resistência à ditadura militar. Você deve necessariamente compartilhar da mesma ideologia (ou ser visto como tal) ou será considerado inapto a ingressar numa boa faculdade por ser “coxinha” em potencial.

Por fim, não permita que o trauma da redação do ENEM destrua seu desejo por escrever e ler poesias, contos ou obras de ficção e realidade fantástica. Assim que passar o pesadelo das provas, saiba que há milhares de lindos e inspiradores livros que lhe permitem voar alto para longe da tragédia social pela qual, apesar do empenho em envolver-lhe feito pelos mestres politizados, você não deve carregar nenhuma culpa. De Machado de Assis a Drummond de Andrade, de Gonçalves Dias a Paulo Leminsky, de Lewis Carroll a George R R Martin, do Pequeno Príncipe a Harry Potter, do Superman ao Dragon Ball. Leituras deliciosas, motivadoras e sem compromisso, eivadas de liberdade e beleza que passam a quilômetros de distância do mundo em degradação retratado pelos educa(stra)dores do ENEM.





Adaptado de texto originalmente escrito nesse blog em 2017



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM BOLSONARO NO HOSPITAL





Depois de conseguir uma entrevista exclusiva com Lula na prisão em Curitiba, fomos agora ao hospital Albert Einstein, SP, entrevistar Jair Bolsonaro.
- Sr. Bolsonaro, estamos aqui para mais um FURO...
- Enfermeira, socorro, chame o segurança. Mais um louco com faca!
- Calma, calma, candidato, isso é apenas uma caneta. É um ‘furo jornalístico’ pro meu blog.
- Vocês jornalistas sempre deturpando as coisas. O Trump tem razão, essa imprensa está a serviço dos esquerdopatas.
- Continua a dieta à base de líquidos, candidato?
- Sim. O doutor disse que é para eu parar de fazer merda. Não sei se ele quis fazer alguma gracinha. Fingi que não ouvi.
- Semana passada o senhor foi fotografado na cama rabiscando uns papeis...
- Ah, isso aqui? (mostrando uma prancheta com folhas rabiscadas). É nosso Plano de Governo. Preciso entender o que vou fazer quando for eleito.
- Mas o senhor não conhece seu Plano de Governo?
- Claro que não! Meu eleitor só quer saber de acabar com a bandidagem. Vamos dar armas pra população, acabar com kit gay nas escolas e abrir colégios militares em todos os bairros. O resto deixo pro Paulo Guedes.
- Ele deu umas declarações sobre recriação da CPMF...
- Pedi pra ele não tocar mais nesse assunto. Isso da CPMF é pra ser anunciado na coletiva após minha posse. Collor foi um grande estrategista: divulgou o bloqueio da poupança no primeiro dia de governo, pegou todo mundo de calça curta...
- O senhor está bastante confiante na vitória...
- Sim, desde que fui internado, subi mais de 10 pontos. Mais pontos no abdômen, mais pontos na pesquisa. Hahaha.
- Mas sua saúde ainda inspira cuidados...
(Nessa hora o candidato retira de trás do travesseiro um boletim de alta assinado por dois médicos).
-Não conta pra ninguém, hein! Pedi pro Flavinho dar uma enrolada nos médicos pra me deixarem ficar nesse hotel até o fim dos debates eleitorais.
- O senhor não vai mais participar?
- Eu não! Aquilo não serve pra nada. E ainda sou obrigado a escutar sermão da Marina e desaforo do Boulos. Mas no dia das eleições, estarei pronto para votar no Ciro.
- O quê? O senhor não vai votar em si próprio?
- Você acha que vou votar em quem nem sabe o plano de governo? Além disso, eu já tô no segundo turno mesmo. O Ciro seria perfeito pra minha equipe se ele não tivesse bandeado pro lado do Lula. É a sina de todo político nordestino. O Ciro é cabra macho, sabe enquadrar a mulherada no seu devido lugar como fez com aquela vagabunda da Globo com quem foi casado.
- Ódio da Globo?
- Que nada, a Globo está bombando minha candidatura. Quanto mais safadeza e viadice eles mostram na novela, mais eleitores eu ganho, hehe! Bom, amigo, deixa eu voltar aqui pra leitura do meu Plano de Governo. Aproveita e vê aí pra mim no dicionário o que significa “déficit primário”.



quinta-feira, 13 de setembro de 2018

ESTEREÓTIPOS ELEITORAIS



As candidaturas presidenciais sintetizam diferentes visões de mundo.
Quatro paradigmas se sobressaem no cenário atual, relacionadas aos candidatos que reúnem melhores condições de alcançar o segundo turno, de acordo com os institutos de pesquisas: Bolsonaro, Alckmin, Marina e Esquerda.
A candidatura de esquerda vem sendo disputada por Ciro Gomes e Fernando Haddad. Ambos se encontram no mesmo campo ideológico, representando um eleitorado com perfil bastante semelhante. Só um deles provavelmente terá condições de alcançar o segundo turno: as possibilidades de Haddad parecem ser mais robustas já que conta com o apoio de Lula, herdando grande parte dos votos de seu padrinho político, inabilitado pela lei da ficha limpa.
Boa parte do eleitorado permanece indecisa, sobretudo por não conhecer com clareza os atributos inerentes às candidaturas.
Com a finalidade de subsidiar os eleitores, elencamos 40 tópicos subjacentes aos quatro paradigmas (alguns diriam ESTEREÓTIPOS).
Confira com qual deles você melhor se identifica.

1)    SISTEMA POLÍTICO/ECONÔMICO
·        Haddad:        socialista
·        Alckmin:       social democrata
·        Marina:         humanista
·        Bolsonaro:   capitalista

2)    MÉTODO DE CONVENCIMENTO
·        Haddad:        doutrinação
·        Alckmin:       negociação
·        Marina:         exemplo
·        Bolsonaro:   medo

3)    INTERLOCUÇÃO
·        Haddad:        movimentos sociais
·        Alckmin:       partidos políticos
·        Marina:         ONGs
·        Bolsonaro:   Forças Armadas

4)    PROPOSIÇÃO
·        Haddad:        igualitarismo
·        Alckmin:       meritocracia
·        Marina:         ética
·        Bolsonaro:   patriotismo

5)    MODELO ORGANIZACIONAL
·        Haddad:        sindicato
·        Alckmin:       mundo corporativo
·        Marina:         tribo
·        Bolsonaro:   quartel

6)    PATRONO
·        Haddad:        Lula
·        Alckmin:       FHC
·        Marina:         Chico Mendes
·        Bolsonaro:   Coronel Ustra

7)    INTERNACIONAL
·        Haddad:        Fidel
·        Alckmin:       Churchill
·        Marina:         Gandhi
·        Bolsonaro:   Margaret Thatcher

8)    EUA
·        Haddad:        Bernie Sanders
·        Alckmin:       Hillary Clinton
·        Marina:         Barack Obama
·        Bolsonaro:   Donald Trump

9)    PAÍS MODELO
·        Haddad:        Venezuela 
·        Alckmin:       França
·        Marina:         Butão
·        Bolsonaro:   EUA

10)          POLÍTICA AMBIENTAL
·        Haddad:        subordinado à política social
·        Alckmin:       metas de controle de poluição
·        Marina:         respeito aos protocolos
·        Bolsonaro:   o que é isso?

11)          AGRICULTURA
·        Haddad:        sem-terra
·        Alckmin:       tecnológica
·        Marina:         orgânica
·        Bolsonaro:   agrotóxica

12)          SEGURANÇA PÚBLICA
·        Haddad:        bolsa presidiário
·        Alckmin:       investir em inteligência
·        Marina:         eliminar o crime
·        Bolsonaro:   eliminar os criminosos

13)          ACORDOS INTERNACIONAIS
·        Haddad:        África e América Latina
·        Alckmin:       EUA, Europa e China
·        Marina:         países que respeitam direitos humanos
·        Bolsonaro:   não servem pra nada

14)          ORIENTE MÉDIO
·        Haddad:        pró Palestina
·        Alckmin:       respeito à autodeterminação
·        Marina:         acordo de paz
·        Bolsonaro:   pró Israel

15)          DROGAS E ABORTO
·        Haddad:        descriminalização
·        Alckmin:       redução de danos
·        Marina:         plebiscito
·        Bolsonaro:   tolerância zero

16)          ÍNDIOS/QUILOMBOLAS
·        Haddad:        integração
·        Alckmin:       tutela
·        Marina:         respeito
·        Bolsonaro:   extermínio

17)          IMPOSTOS
·        Haddad:        sobre heranças, grandes fortunas, CPMF
·        Alckmin:       IVA e simplificação tributária
·        Marina:         taxação sobre atividades poluidoras
·        Bolsonaro:   reduzir pela metade

18)          MINISTRO DA CULTURA
·        Haddad:        Regina Casé
·        Alckmin:       Arnaldo Jabor
·        Marina:         Gilberto Gil
·        Bolsonaro:   Alexandre Frota

19)          GÊNERO
·        Haddad:        LGBTs
·        Alckmin:       homem
·        Marina:         mulher
·        Bolsonaro:   homem hetero

20)          PET
·        Haddad:        fox paulistinha
·        Alckmin:       pointer
·        Marina:         labrador
·        Bolsonaro:   pitbull

21)          ATIVIDADE FÍSICA
·        Haddad:        capoeira
·        Alckmin:       pilates
·        Marina:         yoga
·        Bolsonaro:   UFC

22)          PRATO
·        Haddad:        mortadela
·        Alckmin:       coxinha
·        Marina:         tofu
·        Bolsonaro:   churrasco mal passado

23)          MÚSICA
·        Haddad:        rap
·        Alckmin:       easy listening
·        Marina:         MPB
·        Bolsonaro:   sertanejo universitário

24)          FILME
·        Haddad:        Aquarius
·        Alckmin:       O Discreto Charme da Burguesia
·        Marina:         Avatar
·        Bolsonaro:   Rambo, a Missão

25)          RELIGIÃO
·        Haddad:        agnóstico
·        Alckmin:       católico
·        Marina:         evangélico
·        Bolsonaro:   judaico-cristão

26)          EVENTOS
·        Haddad:        foro de São Paulo
·        Alckmin:       Davos
·        Marina:         feira agroecológica
·        Bolsonaro:   festa do peão boiadeiro

27)          REGIÃO
·        Haddad:        Nordeste
·        Alckmin:       Sudeste
·        Marina:         Amazônia
·        Bolsonaro:   Sul

28)          EQUIPE DE GOVERNO
·        Haddad:        petista puro sangue
·        Alckmin:       técnica
·        Marina:         apartidária
·        Bolsonaro:   neoliberal

29)          SEGUNDO ESCALÃO
·        Haddad:        aliados de palanque
·        Alckmin:       indicações Centrão
·        Marina:         voluntários
·        Bolsonaro:   militares

30)          MULHER
·        Haddad:        feminismo
·        Alckmin:       igualdade de direitos
·        Marina:         valorização
·        Bolsonaro:   lavar a louça

31)          TRATAMENTO AO BANDIDO
·        Haddad:        vítima da desigualdade social
·        Alckmin:       aplicação da lei
·        Marina:         recuperação
·        Bolsonaro:   bandido bom é bandido morto

32)          TRUNFO
·        Haddad:        bolsa família
·        Alckmin:       Plano Real
·        Marina:         licenciamento ambiental
·        Bolsonaro:   golpe de 64

33)          FANTASMA
·        Haddad:        operação lava jato
·        Alckmin:       Aécio Neves
·        Marina:         produtos transgênicos
·        Bolsonaro:   kit gay

34)          PROFISSÕES TÍPICAS
·        Haddad:        assistente social / professora
·        Alckmin:       empresário / banqueiro
·        Marina:         biólogo / terapeuta holístico
·        Bolsonaro:   policial / caminhoneiro

35)          LEITURA DE CABECEIRA
·        Haddad:        Marilena Chauí
·        Alckmin:       José Arthur Giannotti
·        Marina:         Fernando Gabeira
·        Bolsonaro:   Olavo de Carvalho

36)          COR
·        Haddad:        vermelho
·        Alckmin:       azul
·        Marina:         verde
·        Bolsonaro:   roxo

37)          FASHION
·        Haddad:        barba e tatuagem
·        Alckmin:       casual chique
·        Marina:         despojado
·        Bolsonaro:   démodé

38)          CALÇADO
·        Haddad:        tênis
·        Alckmin:       oxford
·        Marina:         sandália
·        Bolsonaro:   bota

39)          TRAJE
·        Haddad:        colorido não combinando
·        Alckmin:       terno e gravata
·        Marina:         esportivo discreto
·        Bolsonaro:   farda

40)          ACESSÓRIO
·        Haddad:         broche estrelinha do PT
·        Alckmin:       calculadora
·        Marina:         bíblia
·        Bolsonaro:   pistola semi-automática